terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Força & Misericórdia

Imagine um cachorro que viveu por muito tempo com um dono que toda vez que estendia a mão era para agredir ao cachorro. Para bater, para tirar. Mas, um dia o dono o abandona. O cachorro então recebe um novo dono. E toda vez que o novo dono estende a mão para tocá-lo, para alimentá-lo, para cuidar de suas feridas o cão se afasta assustado com o rabo entre as pernas, fecha os olhos, pois talvez se ele não ver o sofrimento, doerá menos.

Mas o dono novo se aproxima e ao invés de puxá-lo, de bater nele, de gritar, o dono novo lhe dá um carinho, lhe da comida, lhe leva para passear, põe remédios nas feridas, dá banho, etc... Com o passar do tempo, o cachorro se torna menos apreensivo, as más lembranças vão ficando para trás. Ele começa a aprender a abanar o rabo, a aceitar o carinho, a receber a comida e a receber O AMOR.

Então o novo dono vê uma transformação incrível naquele cachorro, um animal que costumava ter um olhar tão triste e distante, uma postura caída, cabisbaixo, sem vida, começa agora a correr pela casa de alegria, a latir, a lamber seu dono, a pular no seu colo. O cachorro se torna um cachorro novamente, com tudo que um cachorro saudável deve ser.

Um dia, este cachorro estava brincando no quintal de sua casa, feliz, correndo de um lado para o outro, indo buscar sua bolinha, quando de repente o dono antigo, estava passando na rua, e vê o cachorro e o reconhece, mas pensa “Não pode ser! Aquele saco de pulgas agora está aqui, todo feliz? Não pode ser.”

O antigo dono então se aproxima, e aquele cachorro esqueceu completamente da sua vida antiga, agora ele é feliz e dócil. Quando o antigo dono estende a mão, o cachorro logo se aproxima para lamber a sua mão, mas o antigo dono não conhece O AMOR, então ele empurra o seu focinho e diz “Que audácia! Sai para lá seu imundo! Você não passa de um saco de pulgas! Você acha que um banho vai mudar quem você é? Você é apenas um cachorro e sempre será!”

Todos aqueles anos de maus tratos tomam os sentimentos daquele cãozinho que mais uma vez coloca seu rabo entre as pernas, fica cabisbaixo, perde o brilho no olhar. Mas, este cãozinho tem um novo dono! Logo que o novo dono vê a cena, ele se aproxima com pressa, se põe na frente daquele cachorro com seu peito inchado, cabeça levantada, autoridade e diz: “Sai daqui agora! Você não tem direito de estar aqui e muito menos de tratar o MEU cão desta forma. Ele é MEU agora, e eu cuido dele e não deixarei que nenhum mal chegue a ele. Eu o amo e ele faz parte de minha família.”

O homem sem jeito deixa o local.


Quantos de nós já vivemos uma experiência como a do cãozinho? Quantos de nós já sofremos em silêncio, sem ter com quem contar, enquanto éramos afligidos por alguém? Quantos de nós já tivemos que conviver com alguém ruim, alguém que sempre nos machucava com suas ações, palavras e atitudes?

A opressão nos deixa assim como o cãozinho era, sem vida, sem esperança, sem brilho no olhar. Mas quando começamos a experimentar o AMOR, ele vai nos curando, nos mudando, trazendo quem realmente somos e quem devemos ser a tona. Sem a opressão podemos ser o que fomos feitos para ser. Sem a opressão, perdemos o medo, o medo da dor, do abandono, da reação. Quando conhecemos o AMOR, sabemos que ele nos protege, ele nos dá confiança, ele nos transforma de dentro para fora.

O novo dono ilustrado na história pode ser uma pessoa que Deus colocou na sua vida ou o próprio Deus te restaurando. Eu experimentei o que é ser livre, eu experimentei o que é ser amada e não quero voltar à opressão.

Eu sei que é difícil classificar essa pessoa como ruim, mas assim como na história do cãozinho, pessoas que agiram assim conosco são ruins.

O que é ser ruim?

Dentro do que tenho pesquisado na Palavra, da visão de Deus, de psicólogos cristãos e ministros. Acredito ser ruim é uma pessoa que continuamente escolhe fazer o mal, sem remorso, sem pedir perdão e sem reconhecer o mal que fez.

Partindo desta definição, você tem alguém assim na sua vida? E se sim, o que fazer? Como agir?

Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.
E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa.
Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.
Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado". 
- Mateus 5:39-42

Muitas vezes interpretamos o ‘oferecer também a outra’ como permanecer debaixo da opressão e do abuso. Mas Deus sempre tem a eternidade em mente. E olha para o todo, e não para os fatos isolados. Ele quer a restauração do agressor também.

Tenho entendido que oferecer a outra face NÃO é me justificar, atacar de volta, responder, humilhar, estar certa ou ainda aceitar o abuso e não reagir. Oferecer a outra face é saber lidar com essa pessoa com amor. Não esse amor meloso de romance, mas um amor forte, um amor que olha para o todo. Um amor que quer restaurar, e que vai pagar o preço para tal.

Jesus falou muitas coisas fortes aos fariseus, mas será que Ele falou aquelas coisas porque não amava a eles? Porque os odiava? Eu acho que não. Acho que Jesus, com tudo que falou aos fariseus, falou para dar-lhes uma chance de reconhecer seu próprio erro e mudar.

Alguns aspectos das pessoas consideradas ruins são: frieza, arrogância, zombaria, dureza e destruição.

Vamos dar uma olhada em alguns textos do livro Amor Ousado do psicólogo cristão Dr. Dan B. Allender.

Uma pessoa ruim habilidosamente e com frequência mostra seus motivos e seu comportamento como inocente. Os outros simplesmente não entendem. Ela é enganosamente talentosa em fazer as vítimas do seu abuso se sentirem como as causadoras do mal. Quanto suas vítimas protestam e expõe o abuso, ela irá acusar a vítima de ser muito sensível, emocional, perturbada e sem razão. Ela se mostra como a real vítima, cruelmente mal interpretada e falsamente acusada.

O mal tem uma energia que move continuamente sem restrição ou descanso.

Existe um senso de confiança, uma energia de liderança que permite que os outros abdiquem suas escolhas e se deixem levar pela sua coragem (da pessoa ruim). A arrogância cria um ambiente de “siga-me ou saia do meu caminho”. E quem quer se sentir perdido em um mundo como o nosso?

A zombaria é uma arma que o mal usa poderosamente para eliminar de sua vítima qualquer senso de si mesmo e de vida.

Uma pessoa ruim usa o acesso de confiança para destruir qualquer desejo de se confiar nos outros, e até mesmo de se confiar em si. Consequentemente os efeitos da pessoa ruim são remover de suas vítimas qualquer senso de cuidado e discernimento em relação a pessoa ruim, e ao mesmo tempo criar um medo super vigilante em relação a qualquer pessoa boa.

A prisão é uma forma de escravidão que anula os sentidos e rouba da alma a visão do que podia ser.

A pessoa ruim deve controlar em poder absoluto e para isso precisa anular a esperança.


Estes textos são muito fortes, porém muito reais, e todos nós tivemos, temos ou teremos que lidar com pessoas assim no curso de nossa vida.

É mais fácil simplesmente deixar o agressor continuar e fingir que não está nos afetando, ao invés de enfrentá-lo com amor. Porque preferimos ser educados, não queremos constranger, não queremos perder o relacionamento, não queremos lidar com as consequências.

Pense na eternidade.

Talvez você seja a única oportunidade desta pessoa de arrependimento e de experimentar o AMOR.

Eu acredito que não existe reconciliação sem arrependimento. E se não houver arrependimento estamos nos enganando de que o relacionamento será diferente.

Então qual a melhor forma de reagir?

O primeiro passo seria impor limites e consequências. Na próxima vez que você for atacado pela pessoa, imponha limites e consequências. Por exemplo: Eu não irei permitir que você peque mais contra mim e contra si mesmo, então se esta é a maneira que você vai escolher para se relacionar comigo...

Aí você terá que ver dentro do contexto do seu relacionamento com essa pessoa o que vai funcionar dizer, os limites e as consequências que a pessoa irá receber por infringir.

Assim como educamos a criança através das punições quando ela faz algo errado. Iremos condicionar esta pessoa a agir de forma diferente, caso queira manter o relacionamento conosco.

Não, não será fácil impor os limites e mantê-los. Você vai precisar aprender a exercer de força e misericórdia.

“A pessoa ruim fica enfurecida quando tratada com força e misericórdia.

Nosso maior problema é geralmente encontrar uma consequência razoável e bíblica na hora de se escolher os parâmetros. Quando nos recusamos a aceitar um possível abandono, acabamos nos impedindo de impor limites e estabelecer consequências. Mas quando encontramos coragem para fazer isso, vamos descobrir que o amor é uma arma poderosa contra as forças do mal. E então estaremos prontos para oferecer o próximo presente, a oportunidade de arrependimento” – Amor Ousado


O temor do Senhor é odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu odeio. - Provérbios 8:13

Pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado. - Provérbios 16:6

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. - Provérbios 28:13

O sábio conquista a cidade dos valentes e derruba a fortaleza em que eles confiam.
- Provérbios 21:22 Versão Internacional

Quando se manda embora o zombador, a briga acaba; cessam as contendas e os insultos. - Provérbios 22:10 Versão Internacional

A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens. - Romanos 12:17

Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem. - Romanos 12:21

Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos. - 1 Tessalonicenses 5:15

O amor não faz mal ao próximo. - Romanos 13:10



Conforme podemos ver através da leitura da Palavra é que Deus não se alegra com o mal, mas Deus ama as pessoas. E Ele quer salvá-las. É mais fácil simplesmente ignorar as pessoas difíceis em nossas vidas do que ‘lidar’ com elas. Mas quando permitimos que elas tenham este tipo de comportamento conosco, estamos permitindo que elas pequem contra nós e contra elas mesmas.

Este é o tipo de amor mais difícil de dar, o amor ousado, o amor que corrige, porque ama.

Eu posso fazer certas afirmações, porque eu um dia também fui uma pessoa com muitas das características da pessoa ruim. A vítima do abuso sempre se torna ou uma abusadora ou uma restauradora.

Mas Graças a Deus, situações da minha vida me trouxeram a um lugar de arrependimento e eu pude reconhecer meu erro, me arrepender e tomar um caminho de restauração. Porque quando temos este tipo de comportamento estamos na verdade, constantemente perdendo. Perdendo pessoas que amamos, perdendo oportunidades, perdendo o que Deus tem para nós, perdendo a verdadeira experiência e benefícios de um relacionamento saudável, perdendo em não receber amor, perdendo em não dar amor, etc..


Por isso eu peço, não desista das pessoas difíceis da sua vida. Ame-as, Ame-as com o AMOR OUSADO.